"Chiparopai, uma anciã iuma, evoca as transformações a que se viu confrontada em princípios do século XX."
“A doença chegou convosco (o homem branco) e os nossos morreram às centenas. Onde está a nossa força?... Dantes éramos fortes. Costumávamos caçar e pescar. Cultivávamos e colhíamos o nosso milho e os nossos melões, comíamos favas. Agora tudo mudou. Comemos o sustento do homem branco e isso enfraquece-nos. Dantes, todos os dias, fosse verão ou inverno, íamos para as margens do rio para nos banharmos e isso fortificava-nos e enrijava-nos a pele. Mas os colonos brancos ficavam chocados por verem os índios nus e agora temos de nos afastar. Dantes, usávamos tangas e mantos de cascas e juncos. Durante toda a invernia trabalhávamos ao vento, de braços e pernas nus, e nunca ficávamos constipados. Agora, porém, quando o vento assopra lá do cimo das montanhas, põe-nos logo a tossir. É bem verdade – quando vós chegais, nós morremos. (pg. 135)
(In Teri C. McLuhan, 2000, “A Fala d Índio”,Lisboa: Artes Gráficas, Lda.)