De uma entrevista conduzida pelo jornalista, Pedro Romano, do Jornal de Negócios, de 25 de Maio, ao Professor Catedrático, João Ferreira do Amaral, do ISEG, nas páginas 4 e 5, cujo título era “A Economia tem sido destruída pelo Euro”, destaco:
“Há 10 anos, João Ferreira do Amaral foi dos poucos que se opôs à entrada de Portugal na Zona Euro. Hoje, mantém tudo o que disse na altura.”
“A Europa não percebe que, quantos mais planos de austeridade fizer, mais ataques especulativos ela vai sofrer. Aliás os indicadores de confiança já estão a piorar.”
“A entrada na Zona Euro foi a principal razão da perda de competitividade.”
Quando questionado sobre a saída da União Europeia respondeu:
“Se saíssemos hoje de rompante seria um desastre completo. Mas se fosse uma saída ordeira – o que, admito, também seria difícil -, teríamos tempo para fazer um ajustamento de forma menos onerosa. Podemos sair do Euro, pôr a casa em ordem e depois voltar.”
À pergunta do jornalista se “o ajustamento não pode ser emulado por uma redução dos salários? Krugman propôs uma queda de 20% relativa aos salários alemães.”
O Professor Ferreira do Amaral respondeu:
“Pelo que me apercebi, Krugman apenas queria dizer que, sendo as diferenças entre países tão grandes, seria necessária uma queda de 20% a 30% dos salários para que as coisas se equilibrassem. Disse mas isso para mostrar como a solução é absurda. Mas mesmo que isso fosse socialmente exequível a medida acabaria por ser ineficaz. Repare que o conteúdo de salários das exportações é de 30%. Se, por absurdo, cortasse 30% dos salários, a nossa competitividade só aumentava 9%.Bastava uma oscilação do dólar para essa vantagem desaparecer. É um erro seguir essa via, que é ineficaz e teria um custo social brutal.”
“A união monetária foi feita como forma de atingir um obectivo político.”
“Não há nenhuma justificação política ou económica para que um país não tenha qualquer défice.”
Em relação aos benefícios do Euro respondeu ao jornalista:
“Só um: a redução da inflacção. É triste dizê-lo, mas tudo o resto que foi prometido não se realizou. Disse-se que ia haver mais crescimento e mais emprego e não houve. Disse-se que haveria estabilidade cambial e não houve – basta ver as oscilações euro/dólar. Disse-se que não haveria problemas de financiamento e agora estamos cheios de problemas de financiamento. Olhando para os factos, os resultados são desoladores.”
Em resposta ao tema do impasse em torno da ajuda à Grécia comentou:
“Que as instituições estão completamente desajustadas. Uma coisa que ainda hoje me espanta é: como é que foi possível haver tanta incompetência na criação destas estruturas? Nem sequer havia um prestamista de última instância – que teoricamente deveria ser o BCE mas que, devido aos seus estatutos, está impedido de levar a cabo esta função.”
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