"A frase impossível - o Natal é quando o homem quer - calhou ontem, 13 de Outubro. O cântico foi da velha chilena Violeta Parra: Gracias a la vida. Os presentes vinham num embrulho que ia e vinha e trazia sempre as letras certas: Fénix. E esses presentes eram tão raros que outrora o poeta Brecht os deu como desaparecidos. Quem construiu a Tebas a das sete portas? Para onde foram os pedreiros na noite em que ficou pronta a Muralha da China? A grande Roma está cheia de arcos de triunfo - quem os levantou? Perguntas antigas, que ontem tiveram resposta, tiveram nomes. Florencio Ávalos, Carlos Mamani, Jimmy Sánchez, Victor Zamora, Esteban Rojas... E de cada vez que um presente era aberto e um nome aparecia, as sirenas soavam e olhos alagavam-se. O poeta perguntara também: "Filipe de Espanha chorou, quando a Armada/ Se afundou. Não chorou mais ninguém?" Ontem, chorávamos todos, o filho do Florencio, a loira da Sky News, o solitário no café da Madragoa. Ontem, um dos danados da terra e desapossados de nome, mal ganhou nome, Mario Sepúlveda, o segundo da dinastia dos 33, falou por ele e por todos - cumprindo as palavras de Violeta Parra: "El canto de todos que es mi proprio canto." Pousou o bornal e tirou dele pedaços de rocha que arrancou à mina, que distribuiu. E depois disse isso em palavras: "Não me tratem como artista, sou Mario, o trabalhador mineiro."
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