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segunda-feira, 17 de março de 2014

"Não podiam comprar o Porsche mais tarde?"

Nicolau Santos

"Portugal está no fim de um programa de ajustamento fortemente penalizador para a generalidade da população. 660 mil famílias deixaram de pagar os seus créditos à banca. Há mais de 2,5 milhões de concidadãos que vivem no limiar da pobreza. O subsídio de desemprego, o abono de família, as pensões e reformas foram drasticamente reduzidos. Mais de 700 mil pessoas não têm trabalho. Tudo parece correr mal na frente interna.
Tudo? Seguramente que não. A venda de automóveis de luxo em Portugal vai de vento em pôpa, ainda sem a Factura da Sorte do fisco ter começado a oferecer carros topo de gama a quem pedir facturas, criando assim mais excêntricos.
Com efeito, o ano passado houve 300 cidadãos que compraram carros em que um novo jogo de pneus custa mais que o salário mínimo acumulado num ano: três Bentley, um Lamborghini, nove Ferraris, 14 Aston Martin e 273 Porsches.
Se isto aconteceu num ano em que a recessão terá sido de 1,6%, sucedendo a outros dois anos de quebra severa do produto interno bruto do país, o que não se irá passar neste ano em finalmente a economia volta a crescer?
A resposta é óbvia: muito mais carros de luxo vão ser vendidos no mercado português. Para já, nos dois primeiros meses do ano, a Porsche já vendeu 43 carros da marca, mais 53,6% que no mesmo período do ano anterior. A Ferrari vendeu três carros este ano contra nenhum no mesmo período de 2013. E as outras marcas de luxo vão pelo mesmo caminho.
Ora partindo do princípio que todos os compradores são portugueses, a pergunta que se faz é se não podiam esperar um pouco mais para comprar o Porschezinho? Se não conseguiriam viver mais, já não digo uns anos mas uns meses, antes de adquirirem o carrinho? Se não conseguiam circular nem mais um minuto com o anterior modelo? Ou se nunca lhes passou pela cabeça ajudar uma instituição de solidariedade social? Ou investir para criar emprego? Ou ao menos reforçar o capital de empresas? 
É que num país dizimado pelo programa de ajustamento um pouco de pudor talvez ajudasse a suportar a dor e passasse a ideia que, apesar de tudo, os sacrifícios estão a ser mais ou menos bem distribuídos. Assim não. Assim fica-se com a ideia que há muitos que estão a pagar com lingua de palmo este ajustamento - mas há uma minoria que continua a escapar. E que não tem discrição nem vergonha. Não é uma elite na miséria. Mas é uma miséria de elite. "  


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/nao-podiam-comprar-o-porsche-mais-tarde=f861222#ixzz2wEotAhPo


Em 2010, escrevia Martim Avillez:

"Ignaz Semmelweis nunca chegou a saber que entrou para a história da medicina como o 'salvador das mães'. O médico húngaro descobriu em 1846 que se todos os médicos lavassem as mãos antes dos partos as mul
heres deixariam de morrer da terrível febre puerperal. Mas morreu antes que alguém o levasse a sério."

"enquanto a economia cresceu 659% entre 1985 e 2008, a despesa disparou 803% e os impostos 964%."

"Afinal, 43% dos impostos efetivamente liquidados em Portugal foram pagos por famílias com rendimentos entre 32 e 50 mil euros por ano. Isso, famílias que vivem com menos de 1500 euros líquidos por mês. São os remediados quem financia a maior fatia de toda esta despesa."


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/lavar-as-maos=f603924#ixzz2wEtuRpC5

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