"Em 7 de Outubro fui à Ajuda assistir, no ISCSP [Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas], ao segundo dia das Provas de Agregação em Ciências da Comunicação, do professor universitário e investigador dos media doutor Nuno Goulart Brandão, que, tendo sido durante anos, profissional de televisão, é tido como profundo conhecedor de diversos campos da comunicação. A prova consistia numa lição, perante um júri constituído por sete catedráticos, aos quais o prof. Brandão apresentaria uma aula-síntese, sob o tema "As relações públicas e os papéis relacionais com os media". Fez, que eu vi, um notável exercício pedagógico, fluido, sistematizado e claro, sustentado por constante enquadramento teórico.
O professor catedrático Adriano Duarte Rodrigues ocupar-se-ia da arguição. Mas o insólito acontece. Questionando, com primarismo boçal, matérias hoje classificadas como temática científica em sedes internacionais do conhecimento universitário, o mestre desata em considerações genéricas, bolçadas num nível de linguagem intolerável, acerca dos fundamentos, do campo de acção e dos modelos de desempenho da profissão de relações públicas, que me deixou indignado e revoltado. Rodrigues reduzia o sério esforço pedagógico (que não arguiu) a meras questões vocabulares. E descomedido e chocarreiro, malbarata conceitos estáveis, tripudia teorias hoje indiscutíveis nas academias sérias da comunidade científica, desprezando autores consagrados e investindo a espasmos irreprimidos do seu fel, sobre áreas do conhecimento que assumiu não tanger.
Considerou, todavia, dever interrogar-se se relações públicas não constituirá uma expressão referida às "mulheres de vida pública" e às "relações" usuais em "casas de passe"... Parecia divertido na sua prosódia de abade com que Deus o castigou, a perguntar-se se as relações públicas não serão senão "relações privadas; talvez até, relações mais íntimas entre dois corpos"... Confuso e diabolizador, chega a questionar "se os ditos relações públicas não usam o médium para contactar com o além"... Insultou as profissões e milhares de profissionais oriundos desta área de estudo e nem se eximiu a deixar no ar torpes suspeitas quanto à fiabilidade da tese e da metodologia usada pelo prof. Brandão, sob os auspícios do seu sábio orientador, o professor doutor Paquete de Oliveira, meu ilustre ex-colega e actual provedor do Telespectador, que não estava presente. Ousou a insídia acerca de "comunidades ditas de foro científico que se prestam a estudar tais áreas de formação". E pôde ir por ali fora sem que algum dos outros jurados ou o presidente, cujo nome nem fixei, no mínimo o interpelassem quanto ao baixo nível de linguagem que usava!
Acho que quem mais se deslustra com o injusto impedimento ali imposto, num espectáculo tão degradante e indigno, ao prof. Nuno Brandão não será, certamente, o candidato. O instituto que acolheu provas desenvolvidas em tal registo de iniquidade é o primeiro prejudicado. Depois, são desacreditados, do júri, os membros que não souberam pôr mão, à desonrosa actuação do incontinente. E por fim, o próprio Adriano Duarte Rodrigues. A quem, pelo menos, eu recomendaria o impossível: que se actualize. E se contenha. "
Diário de Notícias, Link
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