"Estão ali, falando em silêncio dos recados que o tempo deixou suspensos nas nuvens, chorando os que partiram antes deles, mastigando as palavras na boca, numa toada antiga, que já foi canção de embalar, que já foi cantiga de amor, que já foi riso, que já foi grito, que já foi. Ponto.
Estão ali com a vida por contar. À espera que alguém tenha tempo para parar e ouvir as histórias que os anos gravaram nos vincos da pele. Sentados na beira da morte, aproveitam os restos do sol, o sopro de mais este vento, o sorriso de algum miúdo que não tenha medo do silêncio das mãos que a idade lhes foi derramando no colo.
Estão ali e são exactamente o que nós vamos ser, amanhã. Se Deus quiser, na lentidão branda de quem não vai pedir desculpas, o nosso corpo vai ficando mais perto do chão, a lua vai derramando lágrimas de prata sobre as nossas cabeças, as levadas da nossa cara vão bebendo o brilho da juventude. Como eles, não vamos saber onde guardámos o espelho onde estava a beleza fresca da nossa gargalhada.
Estão ali. São pedaços de Outono que deixam pistas para o nosso Inverno. Estão sós. Desesperadamente sós. Às vezes, dentro da nossa casa. Ao nosso lado. Sentados à nossa mesa. Como se ocupassem um lugar que já não lhes pertencesse.
Estão ali. À espera que a nossa mão aqueça a sua, que o nosso sorriso ilumine a sua cegueira, que a nossa voz lhes conte da vida que corre lá fora, do sol que acorda as cidades, do mundo que, todas as manhãs, traz uma novidade.
Estão ali. E não morreram ainda. Os moribundos somos nós porque os deixamos adoecer de passado. Já nos esquecemos das vezes em que eles cantaram para adormecermos? Já não nos lembramos dos beijos que beberam as nossas febres? Já não precisamos dos truques deles para enganar os pesadelos? Já perdemos o sabor das lágrimas que nos mataram a sede?
Estão ali. Dependem de nós. Amanhã, certamente, a nossa solidão terá exactamente o tamanho da deles. "
Estão ali com a vida por contar. À espera que alguém tenha tempo para parar e ouvir as histórias que os anos gravaram nos vincos da pele. Sentados na beira da morte, aproveitam os restos do sol, o sopro de mais este vento, o sorriso de algum miúdo que não tenha medo do silêncio das mãos que a idade lhes foi derramando no colo.
Estão ali e são exactamente o que nós vamos ser, amanhã. Se Deus quiser, na lentidão branda de quem não vai pedir desculpas, o nosso corpo vai ficando mais perto do chão, a lua vai derramando lágrimas de prata sobre as nossas cabeças, as levadas da nossa cara vão bebendo o brilho da juventude. Como eles, não vamos saber onde guardámos o espelho onde estava a beleza fresca da nossa gargalhada.
Estão ali. São pedaços de Outono que deixam pistas para o nosso Inverno. Estão sós. Desesperadamente sós. Às vezes, dentro da nossa casa. Ao nosso lado. Sentados à nossa mesa. Como se ocupassem um lugar que já não lhes pertencesse.
Estão ali. À espera que a nossa mão aqueça a sua, que o nosso sorriso ilumine a sua cegueira, que a nossa voz lhes conte da vida que corre lá fora, do sol que acorda as cidades, do mundo que, todas as manhãs, traz uma novidade.
Estão ali. E não morreram ainda. Os moribundos somos nós porque os deixamos adoecer de passado. Já nos esquecemos das vezes em que eles cantaram para adormecermos? Já não nos lembramos dos beijos que beberam as nossas febres? Já não precisamos dos truques deles para enganar os pesadelos? Já perdemos o sabor das lágrimas que nos mataram a sede?
Estão ali. Dependem de nós. Amanhã, certamente, a nossa solidão terá exactamente o tamanho da deles. "
Jornal da Madeira, Link
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