Os filhos haviam de falar outras línguas, ter outra instrução, ser doutores como os outros, como os que nunca precisaram de sair da ilha para sobreviver às montanhas. E seriam felizes para sempre.
Quando partiram, levaram o mês de Agosto impresso no bilhete:
- Eu volto, pai.
Levaram anos inteiros a trabalhar para Agosto. O ano não tinha importância. Haviam de regressar e voltar a sentir o cheiro da terra que a água rasgou durante o Inverno. Haviam de voltar a comer a sopa de couve na mesa da cozinha, porque a sopa de couve no longe dos países não tem o mesmo sabor, mesmo que os preparos sejam os mesmos e a toalha da mesa igual à que a mãe punha na mesa, há tantos anos, há uma eternidade atrás. Haviam de voltar a subir os barrancos para ver os poios, apenas para matar saudades. Haviam de voltar para rever os lugares, para ver a família, para beber com os amigos. Haviam de voltar. Chegam agora. Mesmo os emigrantes que não vêm, chegam agora. Porque Agosto é o mês de chegar. Os que vêm trazem valises de abraços e de saudades, lágrimas que foram acumulando para as derramar agora, no momento em que os seus olhares se cruzam com a terra.
Os que não vêm, preparam-se para vir noutro Agosto. Talvez para o ano, a figueira ainda se encha de figos, as uvas ainda enfeitem as latadas, os pais ainda estejam sentados no terreiro, à espera que o mundo lhes devolva quem levou.
Chegam agora. Ou não. Em Agosto, a terra espera os filhos que foram à procura de outros mares. Alguns voltam. Outros não.
Quem parte, inscreve Agosto no peito. Quem fica, também."
Link - Jornal da Madeira
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